Pular para o conteúdo principal

Nasa não pode ter novos planos a cada presidente, diz astronauta Scott Kelly


O astronauta Scott Kelly passou um ano em órbita na Estação Espacial Internacional

POR SALVADOR NOGUEIRA

O presidente Donald Trump anunciou recentemente uma nova mudança de direção para o programa tripulado americano, priorizando um retorno à Lua e deixando para mais tarde uma viagem a Marte. Mas um dos astronautas mais experientes da Nasa não concorda.

"Se o governo americano pudesse fazer alguma coisa para ajudar a Nasa, não seria nos dar mais dinheiro, mas só nos dar uma missão e um plano consistentes e permitir que façamos nosso trabalho, em vez de ficar mudando a direção a cada oito anos", disse à Folha Scott Kelly.

Veterano de quatro missões espaciais, ele se tornou conhecido após realizar uma estadia de um ano inteiro a bordo da Estação Espacial Internacional. Irmão gêmeo de outro astronauta, Mark Kelly, Scott acaba de lançar no Brasil sua biografia: "Endurance: Um Ano no Espaço" (Intrínseca, 400 págs., R$ 49,90).



Kelly também conta sobre os efeitos que passar um ano no espaço tiveram sobre ele, os desafios de operar e sobreviver na Estação Espacial Internacional e as dificuldades adicionais que futuros astronautas devem ter de enfrentar para uma futura missão até o planeta vermelho.

Folha - Você menciona no livro a importância do trabalho de Tom Wolfe com "Os Eleitos", de inspirá-lo a se tornar astronauta, e eu me pergunto se "Endurance" é basicamente a mesma coisa, você tentando inspirar a próxima geração de exploradores?
Scott Kelly - Bem, essa não foi a razão pela qual escrevi o livro, mas depois que escrevi e o li um monte de vezes, aí percebi que essa é uma boa história de inspiração, de como uma criança que era incapaz de fazer lição de casa, não prestava atenção às aulas, encontrou um livro e foi inspirada por ele. Então não foi minha intenção ao começar, mas pareceu ter sido o resultado ao sair da experiência.

E agora, quase dois anos depois, o que dá para dizer sobre os resultados da sua missão, não apenas no aspecto científico, mas também em termos de efeitos duradouros sobre você?
Tem algumas coisas que me afetam fisicamente, mas eu realmente não sinto nenhum sintoma duradouro. Tenho mudanças estruturais nos meus olhos, há definitivamente efeitos da radiação a que você é exposto no espaço, mas também tem uma mudança, eu acho, de sua perspectiva de coisas sobre a vida na Terra, o ambiente e a empatia, que acho que aumentam quando você vê a Terra do espaço por longos períodos de tempo.

E sobre o lado científico da missão, você está acompanhando os resultados que estão vindo dos experimentos feitos lá em cima ou isso é algo que você está deixando para os cientistas?
Bem, eu acabei de sair de uma ligação com os cientistas da Nasa repassando alguns dos resultados do estudo genético. Estávamos falando sobre mudanças em meus telômeros, de como eles ficaram melhores no espaço. Essas são coisas nas pontas dos cromossomos que são uma indicação de sua idade física, e os meus melhoraram no espaço, comparados aos do meu irmão, o oposto do que eles esperavam.

Pelo que você me diz, é possível que, ao estar no espaço por tanto tempo, além dos efeitos colaterais ruins, também pode haver bons efeitos colaterais.
Fisicamente, bons efeitos colaterais, talvez alguma coisa... quando você não usa seus pés, os calos caem com o tempo, então você tem pés mais macios no espaço. Mas acho que seria uma forçada real dizer que viver no espaço vai fornecer a você algum tipo de fonte da juventude, baseada em algumas das pesquisas de que eu participei.


O astronauta Scott Kelly observa a Terra a partir da Estação Espacial Internacional

Uma das coisas que surpreenderam foi a quantidade de problemas que vocês tiveram no espaço ao longo de um ano, como perder três cargueiros, e uma situação bem perigosa com lixo espacial. Isso tudo é prova da resiliência do programa espacial ou é um sinal de que talvez, dobrando a esquina, podemos ter uma situação realmente perigosa com que lidar?
Acho que as duas coisas. É um sinal de nossa habilidade de nos adaptarmos e de operarmos num ambiente que é muito, muito desafiador, muito arriscado, e fazer de um jeito que, até agora pelo menos, tem sido bem seguro e bem-sucedido. Mas, ao mesmo tempo, estamos sempre sob risco de ter uma emergência séria na estação espacial e espero que as pessoas da Terra reconheçam que este é o caso, e que há sacrifício envolvido das pessoas que estão fazendo isso.

A julgar pelo livro, uma coisa que o manteve mais saudável mentalmente na estação era a habilidade de manter contato com as pessoas na Terra, ligar para sua esposa e seus filhos, e isso é algo que as pessoas que forem a Marte não vão poder ter. Seria essa a parte mais difícil ao ir a Marte?
Você está totalmente certo. Vai ser com certeza uma experiência diferente, conforme você se afasta da Terra, sua habilidade de ter uma conversa verbal vai diminuir bem depressa, então você ficará relegado apenas a e-mail ao longo do caminho.

E isso também vai existir no caso de ser capaz de se comunicar com o centro de controle. Vai ser uma experiência difícil. Você sempre estará à luz do dia, a espaçonave estará banhada pela luz solar o tempo todo. Você não terá a visão da Terra, e acho que isso também fará com que você se sinta mais isolado, mais solitário. Então, será um desafio maior.

Depois do acidente do Columbia, primeiro íamos voltar à Lua com o programa Constellation, e então isso foi cancelado e colocamos nossos olhos em Marte, e agora parece que a administração está novamente olhando para a Lua. A Nasa realmente vai a algum lugar ou vai só ficar trocando de objetivo?
Na minha experiência na Nasa, toda vez que temos um presidente novo, nossos planos mudam, e esse não é um bom modo de gerir uma organização com missões que são tão complicadas.
Se o governo americano pudesse fazer alguma coisa para ajudar a Nasa, não seria nos dar mais dinheiro, mas só nos dar uma missão e um plano consistentes e permitir que façamos nosso trabalho, em vez de ficar mudando a direção a cada oito anos.

E quanto você acha que o setor comercial pode ajudar? Você acha que as empresas têm um papel maior a cumprir?
Sim, acho que é uma ótima relação, sabe, a Nasa trabalhando com companhias como a SpaceX e a Boeing para que elas possam assumir os serviços de transporte para baixa órbita terrestre, e isso tudo libere a Nasa para, esperamos, ir a Marte algum dia, se pudermos continuar nesse curso. E isso também libera recursos, acho que estamos na iminência de uma revolução em acesso ao espaço por indivíduos comuns. Acho que é uma época muito empolgante para o voo espacial.

Para encerrar, qual é sua lembrança mais memorável e mais imediata quando se trata da missão de um ano?
Essa é uma pergunta difícil, sabe, não sei se eu tenho uma. Certamente a primeira caminhada espacial que eu fiz, eu nunca tinha feito uma antes, foi bem memorável olhar para a Terra do traje espacial. E, claro, voltar para casa. É a memória mais recente e foi um momento bem empolgante, depois de ter passado um ano no espaço, voltar.


Scott Kelly, dentro de um simulador de Soyuz no Centro de Treinamento de Cosmonautas Gagarin (CGTC), em 4 de março de 2015, na Cidade das Estrelas na Rússia.

Raio-X

Nascimento
Orange (Nova Jersey, EUA) em 21 de fevereiro de 1964

Formação
Engenheiro elétrico, mestre em sistemas de aviação, piloto da Marinha americana e astronauta selecionado pela Nasa em 1996

Trajetória
Realizou quatro voos ao espaço. Passou um ano inteiro em órbita, recorde americano, entre 2015 e 2016.



FONTE: http://www1.folha.uol.com.br/ciencia

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Uma Nova Etapa!

Passados dez anos, Ufos Wilson trocou de nome e plataforma! Agora nos chamamos Banco de Dados Ufológicos e Científicos (BDUC). Nosso conteúdo segue o mesmo, levando informações sérias com foco principal na Ufologia Científica, porém divulgando e abrangendo todas as disciplinas científicas! A seguir o link do site, compartilhem e divulguem: https://bancodedadosufologicosecientificos.wordpress.com/

Arquivo Ovni: Caso Jardinópolis

Jardinópolis esta distante 335 km da capital paulista, localizada na região de Ribeirão Preto foi palco de um acontecimento insólito na noite de 27 de dezembro de 2008, onde um grupo de adolescentes na época teriam presenciado a descida de luzes vermelhas e azuis num terreno baldio próximo de onde estavam, um dos garotos tomou uma imagem com seu celular, porém de baixa resolução. A seguir trecho extraído do blog feito por membros dos familiares dos jovens, contendo relatos e frame do vídeo feito. Relato dos envolvidos: "Por Luciene [AVISTAMENTO DE MEU FILHO] Sábado 27/12/2008, meu filho de 15 anos chega assustado em casa aproximadamente umas 23:45. Meu filho faz parte de um grupo de jovens da igreja católica, e acabando a missa, ele e seus amigos foram para uma pracinha. Essa pracinha fica em um bairro novo. E próximo daquele lugar tem uns terrenos baldios cheios de mato. Eles estavam conversando quando avistaram de longe luzes vermelhas e azuis no céu e logo essa luz

O caso Roswell nordestino: Queda de UFO na Bahia, em Janeiro de 1995

Por Ufo Bahia: Nessa data, as 09:00 horas, uma in­formante do G-PAZ, "M" da TV BAHIA me ligou contando uma mirabolante his­tória de queda de um UFO em Feira deSantana(BA) a 112 Km de Salvador. Umfazendeiro de apelido Beto, tinha ligadopara TV SUBAÉ daquela cidade oferecen­do – em troca de dinheiro – um furo dereportagem; um disco voador tinha caído na sua fazenda e ele tinha provas e ima­gens do fato! Apenas depois do meio dia, conse­gui – por fim – falar com Beto, que apóssua proposta de negócio, ante minha (apa­rente) frieza, me contou com bastante de­talhes o acontecido. Soube que tambémtentara vender suas provas a TV BAHIA,onde procurou o repórter José Raimundo: "Ontem pela madrugada caiu algu­ma coisa na minha fazenda, dentro de umalagoa. Era do tamanho de um fusca; aqui­lo ficou boiando parcialmente submerso,perto da beirada. Tentei puxar como pude,trazendo para perto de mim, com uma vara.Aquilo parecia um parto... (quando seabriu uma porta) começou primeiro a s